quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Análise de croqui e as visões platônicas e aristotélicas


O croqui analisado foi elaborado para a disciplina de Projeto e Varejo, ministrada pela professora Rosana Naccarato, na unidade de ensino superior Senai/ Cetiqt (Barra). A proposta era a elaboração de uma mini coleção coordenada composta por seis croquis, com temática e público escolhidos à critério do aluno.
O tema aborado foi Art Nouveau e a coleção foi "Art Nouveau, uma nova consciência", propondo a mulher um retorno à natureza, ao conforto, ao estar bem e sentir-se bem. A ideia central era aliar arte e natureza, com roupas que remetiam às formas orgânicas e bordadas com motivos florais.



Art Nouveau:

Considerado um fenômeno tipicamente urbano, que nasce nas capitais e se difunde para o interior. Interessa a todas as categorias de costumes: O urbanismo de bairros inteiros, a construção civel em todas as suas tipologias, o equipamento urbano, doméstico, a arte figurativa e decorativa, o vestuário, o ornamneto pessoal e o espetáculo.
Possui influências culturais não európéias, do Japão, China e mundo islâmico.
O objetivo do Art Nouveau foi fundamentalmente compensar a "simetria" da produção em série, unindo a artificialidade dos materias, suavizadas pela formas orgânicas. É um estilo ornamental que consiste no acréscimo de um elemento hedonista a um objeto útil.
Delicadeza, feminilidade e forte influência da natureza estão entre suas principais carcterísticas.

Aspectos do Art Nouveau:

Marca Registrada: Formas orgânicas, assimetria;

Cores: Verde, amarelo, violeta;

Materiais: Ferros retorcidos, vitaris coloridos;

Cidades: Paris, Bruxelas e Viena;

Animais: Insetos voadores, como borboletas e libélulas;

Flor: Íris

Jóias: Tiffany & CO., Lalique;

Pintores: Gustav Klint, Toulouse- Lautrec, Alfons Mucha;

Musa: A dançarina Jane Avril;

Estilista: Paul Poiret.


(Ambiência Inspiração histórica- inserida no trabalho)


A coleção e desenvolvimento do croqui:

Trechos do Editorial da coleção "Art Nouveau, uma nova consciência":

"... Os modelos transitam com o entusiasmo desta "nova primavera", invadindo as ruas com adornos florais e borboletas..."
"... Pressão exagerada, ninguém que é moderno suporta mais, por isso esta coleção cria uma rota de fuga, propondo uma nova realidade, uma floresta encantada urbana..."


(Ambiência Coleção- inserida no trabalho)

O croqui reproduz um macacão com formas  que não evidenciam as curvas femininas, porém preservam a feminilidade, com decote tomara que caia. Possui recorte assimétrico, bolsos e um bordado floral, que inicia-se no tronco e se prolonga até um pouco abaixo da altura dos quadris, intencionalmente, alongando a silhueta.
As cores utilizadas, violeta do tecido e lilás do bordado são cores muito presentes nas obras influenciadas pelo Art Nouveau, assim como o desenho floral e orgânico do bordado. 
De acordo com o tema proposto, o desenho do modelo tenta romper com qualquer rigidez e simetria e se aproxima das linhas curvas e formas orgânicas inspiradas na natureza.
A roupa foi pensada para uma mulher que não está preocupada somente em vestir tendências,  mas que valoriza design e informação de moda e principalmete o conforto das formas mais amplas.


(Ambiência Público alvo- inserida no trabalho)

Croqui segundo Platão:

Segundo a visão platônica, o próprio tema, Art Nouveau, que serve de inspiração para o croqui, já é uma imitação de um ideal concebido no mundo das essências, sendo assim é impossível que a roupa idealizada atinja uma Beleza Absoluta e que atenda a qualquer requisito de perfeição ou originalidade.
Se a criação de moda é uma criação artística, ela é diferente do que Platão considera Belo, já que segundo ele, o Belo é o bem, a verdade e a perfeição e todos esses valores estão inseridos exclusivamente no mundo das ideias. A arte seria uma forma de imitar e reconhecer esse ideal, transformando a matéria em algo que se aproxime dele, mas jamais se iguale em absoluto.
O ser humano tem a capacidade de assimilar a beleza de uma roupa, de um desenho, de uma criação artística, porém ela é analisada proporcionalmente a relação da beleza de um objeto, fruto da criação humana, com a Beleza Absoluta, jamais alcançando sua plenitude.
O croqui é uma imitação, uma sombra, uma tentativa de chegar o mais próximo possível do modelo ideal, porém nunca atingirá esse objetivo.

Croqui segundo Aristóteles:

Em oposição a visão platônica, Aristóteles diz que o ideal está no homem e não no campo das ideias. A beleza é uma propriedade do objeto e a arte não se trata apenas de imitação, mas é responsável pela criação de novas formas.
O filósofo era defensor do empirismo, dizendo que as ideias surgiam a partir da observação, da experiência, atribuindo grande importância aos sentidos humanos.
Apesar de considerar o sujeito capaz de atribuir beleza a um objeto, fruto de sua criação, essa Beleza precisava atender a requisitos, como: Ordem, harmonia e proporção.
O croqui analisado foi criado a partir de um tema, que já tinha seus conceitos estabelecidos e determinados. Para que esse desenho fosse pertinente à temática do Art Nouveau, foi necessário pesquisar, conhecer e observar todas as características desse fenômeno artístico, atendendo à necessidade empírica para a formulação da ideia, segundo a teoria aristotélica.
Dessa forma é possível apreender nos detalhes da roupa aspectos pertinentes ao Art Nouveau, como: Assimetria, escolha das cores e bordado floral.
O croqui não atende aos requisitos de Beleza postulados por Aristóteles (ordem, harmonia e proporção), porém apesar dessa definição objetiva da Beleza, o filósofo aborda o tema  sob um outro ângulo. A questão não se encerra apenas no objeto, mas também no que a obsevação do sujeito pode desencadear em seu espírito, tornando o prazer estético uma reação decorrente da apreensão e fruição do objeto pelo sujeito .
 O croqui será belo ou não, dependendo do sentimento despertado no contemplador. Essa forma de abordar a Beleza, se aproxima bastante das características postuladas pela estética pós-modernista.

Referências Bibliográfiacas:

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia Das Letras, 1992. 709 p.

SEELING, Charlotte. Moda: O século dos estilistas. São Paulo: Könemann, 2000. 655 p.
BRAGA, João. Reflexões sobre moda. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2008.
CAETANO, Nana. Nouveau ou déco?: A moda e a decoração voltam a olhar para o início do século 20. Faça sua escolha. Vogue: Brasil, São Paulo, n. 364, p.187-188, dez. 2008. Mensal.
JONES, Sue Jenkyn. Fashion Design: Manual do estilista. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2005. 240 p.
SUASSUNA, ARIANO.Iniciação à Estética. 9 . ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
 








segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Resumo da tese: "Considerações sobre uma estética contemporânea"

RAHDE, Maria Beatriz Furtado. Considerações sobre uma estética contemporânea. 2007. 16 f. Pesquisa (Pós-graduação) - Curso de Comunicação, Puc Rs, Porto Alegre, 2007. Cap. 01. Disponível em: <http://www.compos.com.br/e-compos>. Acesso em: 15 nov. 2010.


O texto é uma análise sobre as características da pós-modernidade, trazendo sempre os conceitos formados no período da modernidade, para que ambos sejam debatidos, comparados e haja um discernimento mais claro a respeito das suas diferenças basilares.
Enquanto na modernidade, as criações deveriam obedecer a regras, dogmas, a pós-modernidade aponta para o caminho da liberdade, da hibridação entre o real e o imaginário. Viabilizando, dessa forma, novas possibilidades imaginísticas e novas construções visuais.
O ser humano é visto e aceito dentro de toda sua complexidade, sendo-lhe permitida a construção de novos imaginários e a relação livre entre esse imaginário e o simbólico.


As imagens que chegam até a esse sujeito pós-moderno, são permeadas por diferentes visuais estéticos. Na contemporaneidade as imagens são associadas ao mundo visual, virtual e imaginário. Dessa forma, a estética visual contemporânea tende à multimídia, à mistura, à hibridação e não se preocupa com uma pureza estilística, transitando entre a diversidade.
Se opondo ao positivismo puro, na pós-modernidade a neutralidade é considerada inviável, pois as emoções não deixam de interferir nos nossos julgamentos ou ações. A estrutura humana é a junção entre a razão, a percepção, a sensibilidade, os símbolos, os imaginários culturais e sociais e essas características não são dissociáveis.
A modernidade era caracterizada pela exclusão, e em oposição está a pós-modernidade, onde existe a permissividade em agregar diversos estilos estéticos. O sujeito não convive impunemente com essa diversidade que está ao redor, seu interior também é modificado, ocorre uma re-leitura dos seus valores, interagindo com o mundo contemporâneo.

As imagens que nos cercam são ambíguas, estão muito mais próximas da imperfeição, do que da perfeição preconizada pela modernidade. O lógico está cada vez mais próximo ao sentimento e ás percepções. A estética passa a valorizar a qualidade e não mais a quantidade.
Existe a busca pela qualidade de vida, pelo melhor convívio com a natureza e paradoxalmente as máquinas tornam-se cada vez mais presentes e indispensáveis, esse é um mundo polissêmico, plural.
Para melhor apreensão desse mundo de diversidades é necessário desenvolver um senso de criticidade apurado, cultivando uma harmonia estética interior. Para esse desenvolvimento harmônico é necessária a percepção de si mesmo, a formação da sensibilidade, sendo esses pressupostos fundamentais para a compreensão do mundo contemporâneo, que une a tecnologia, a epistemologia e o imaginário que integram a realidade social. Necessitamos dessa compreensão mais apurada para pensarmos tanto o prazer da beleza, quanto o produto cultural.
A pós-modernidade é inclusiva, valoriza o eclético, aceitando quase todas as manifestações do imaginário humano, que trata-se do processo de relação entre o universo subjetivo e a realidade objetiva.
Nesse mundo complexo, sem verdades absolutas, é através do imaginário que construímos novos conceitos estéticos, permitindo um retorno aos sonhos, aos mitos e ás fantasias.
A pós-modernidade traz maior liberdade e maiores possibilidades de argumentações, facilitando a convivência e a aceitação das contradições que estão a nossa volta.
Nas manifestações visuais da pós-modernidade há um posicionamento lúdico, cético, informal, tolerante e irônico, negando o dogmatismo e um posicionamento elitista. Os artistas apresentam uma forte tendência pelas preferências individuais transitórias, que respeitam o valor do que é único, do que é singular.

As representações do sujeito pós-moderno são complexas e estão coadunadas com a sua instabilidade e flexibilidade.


O filósofo Plotino, defende a teoria de que a beleza vai depender da participação de uma ideia, não estando condicionada apenas a simetria, proporcionalidade ou qualquer dogmatismo defendido pela austeridade dos teóricos. Essas reflexões estão em total concordância com a contemporaneidade e remetem à necessidade em combater a formação modernista, transpondo as barreiras que rejeitam e criticam as manifestações da arte contemporânea.

No mundo contemporâneo, nem todas as representações podem ser consideradas esteticamente belas e a autonomia e liberdade adquiridas, requerem  uma reflexão mais aprofundada sobre o estético no pós-moderno.
O ser humano necessita de uma visão ampla da história humana, da história das ideias e da historia das imagens, para poder desenvolver novas visualidades, releituras e reestruturações dos seus conceitos estéticos.
O desejo pela liberdade não é uma característica exclusiva da pós-modernidade, já na Renascença ele se manifestava, com uma visualidade estética voltada para o grotesco, fugindo aos padrões de beleza da época.

Um exemplo é o escultor Ron Mueck, suas obras são caracterizadas pelo hiperrealismo e pelo grotesco, similaridades evidentes ao contemporâneo pós-moderno.
A pluralidade não abre espaço para a beleza ou a verdade única, não depende apenas das teorias desenvolvidas, mas do compartilhamento da emoção, do imaginário e da interação do próprio eu com o objeto ou a forma visual. 

O ser humano que faz parte do contemporâneo, da pós-modernidade, dependendo da sua cultura, aceita, partilha e percebe a nova visualidade estética, sendo portador de conhecimento, espírito crítico e reflexivo.






terça-feira, 9 de novembro de 2010

Análise do Desfile de Ronaldo Fraga sob os aspectos da Teoria Kantiana da Beleza



A COBRA QUE RI - UMA HISTÓRIA PARA GUIMARÃES ROSA


JUÍZO DO CONHECIMENTO

Ronaldo Frga se envolve no universo de Guimarães Rosa para desenvolver essa coleção e aproveita a data comemorativa do cinquentenário da publicação de Grande Sertão: Veredas. A ideia começou em um trabalho do estilista para a Secretaria de Cultura de Belo Horizonte, quando ele estudou o tema e acabou transformando-o no foco da sua coleção do verão 2007.

É necessário conhecer a obra de um dos mais importantes escritores brasileiros para apreender todos os aspectos que conectam a fonte inspiradora e o desfile, incluindo cenário, trilha sonora e as roupas criadas.
Os contos e romances escritos por Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo maracada pela influência de falares populares e regionais. Outra característica muito marcante do escritor é o seu imaginário poético sempre misturado com a realidade. Dentro do livro Grande Sertão: Veredas estão questionamnetos entre o bem e o mal, Deus e o diabo, céu e inferno, o relato da travessia da vida de um sertanejo.


A coleção fala do sertão, que embora seja um universo seco, cheio de armadilhas, é também cheio de cores, cheiros e texturas, tentando reproduzir a vivacidade do texto de João Guimarães Rosa.
Ronaldo trouxe o artista Rodrigo Câmara, que passou dezesseis horas com sua equipe montando a passarela, com serragens coloridas para formar o desenho de uma cobra enrolada num chão de bichos, flores, caveiras e estrelas.  


" O Sertão está em toda parte"



A trilha sonora também é um mergulho no sertão retratadao pelo autor, sendo necessário um entendimento prévio do tema escolhido por Ronaldo fraga. Trechos da obra de Guimarães Rosa são citados, inicialmente num tom mais imperativo, mais árido, mais desértico. Em determinado momento, os mesmo trechos continuam sendo citados, porém uma nova musicalidade é introduzida com a melodia da canção Disparada de Geraldo Vandré e Théo Barros, interpretada por Zé Ramalho e o desfile, gradualmente, vai ganhando a leveza lúdica do imaginário poético do escritor. Existe o momento, em que o conflito dos sentimentos do amor de Riobaldo, por alguém que ele acreditava ser um homem, Hermógenes, ganha um tom compassado. Traz à tona a guerra interior do sertanejo diante de uma situação considerada impossível, imprópria, obra do demônio, personificado na imagem de Hermógenes, codinome adotado por Diadorim. No momento final, com a citação de trechos que fazem alusão ao amor desses personagens principais e a descoberta da verdadeira sexualidade de Diadorim, essa delicadeza domina o tom do desfile. A transição é perceptível, também, pela mudança das cores, que passam dos tons terrosos e iluminados, para tons azulados e as aplicações nas roupas, que de bichos e cenários da caatinga, são substituídos por noites enluaradas e céus estrelados.






Grande Sertão: Veredas, o título do livro, transita entre o grade sertão, como um lugar semelhante a um deserto, de sacrifícios e penitências, mas que mostra as veredas, que é o oásis desse deserto, dando um descanso ao sofrimento. E essa transição é percebida no desfile de Ronaldo Fraga, sendo necessário conhecimento da obra, que tenha validade geral e universal, para que haja uma compreensão correta dessa experiência proposta pelo estilista.

JUÍZO DO GOSTO
  • JUÍZO DO AGRADÁVEL
A produção dos desfiles de Ronaldo fraga geralmente são espetáculos e nesse, especialmente, o estilista tentou aproximar a linguagem da moda com a linguagem de um dos livros e autores mais importantes do Brasil.
Toda atmosfera foi estampada em peças com uma silhueta ampla e solta. Ronaldo fraga motiva, através da moda, que se conheça a literatura.




Existe o julgamneto pessoal a respeito de a temática abordada ser agradável ou não, alcançar ou não o seu objetivo, de ser compreendida e assimilada.
Um desfile de moda pode ser visto como um instrumento de comunicação eficiente e democrático, dependendo da experiência do espectador diante daquele evento, ou pode ser "consumido" como um produto, que tem como única intenção o entretenimento e o evento de visibilidade social.
Esses julgamentos são resultados das sensações pessoais dos espectadores, sendo puramente subjetivas, porém, mesmo essa subjetividade  se baseia na necessidade de um consenso geral a respeito da beleza do espetáculo.
A escolha da inspiração, o livro Grande Sertão: Veredas, obra de um autor renomado da literatura brasileira, já confere uma concordância e validade para que a coleção, criada por Ronaldo Fraga, seja aceita e compreendida pelo público do desfile.


JUÍZO ESTÉTICO

Esse juízo se aproxima do juízo do agradável, pois a opinião a respeito da validade e fidelidade temática proposta no desfile de Ronaldo Fraga, dependem da sensação de prazer experimentada pelo espectador, porém, segundo a Teoria Kantiana da Beleza, ela não necessita de uma validade geral, sendo resultado de uma simples reação pessoal.
O espectador, individualmente, vai definir o desfile, analisando o desdobramento da inspiração na execução do evento.
Em resumo, não haverá a formação de um conceito, pois o que importa não é o desfile em si e suas características é a reação e o entendimento individual do observador/espectador.


PARADOXOS DA TEORIA DA BELEZA KANTIANA

  • PRIMEIRO PARADOXO KANTIANO SOBRE A BELEZA
Se o juízo estético independe de um consenso geral, então existe o questionamento dentro do tema abordado - Desfile da coleção do estilista Ronaldo Fraga. Quando o espetáculo é apresentado, existe a intenção de torná-lo belo e agradável para o público em geral.
É importante que o evento seja validado pelos espectadores, que o movimento de moda mobilize a criação de uma estrutura como São Paulo Fashion Week, por exemplo, onde os desfiles imediatamente entram na casa das pessoas, pela televisão, pelos jornais, pela internet e pelo interesse que o brasileiro, em geral, tem pela moda. Então a moda desperta a atenção e torna-se um movimento cultural e social de transformação.
Ronaldo Fraga acredita nessa concordância geral e evocou um tema que permeia a necessidade de conhecimento e a curiosidade do povo brasileiro, dos diversos "brasis" que existem, culturalmente, geograficamente, socialmente.
Esse é o primeiro paradoxo Kantiano, o juízo estético seria pessoal, porém é validado pelo consenso universal, "contaminado" pelo juízo do conhecimento.

  • SEGUNDO PARADOXO KANTIANO SOBRE A BELEZA
O segundo paradoxo é um desdobramento do paradoxo anterior e consiste em questionar, no desfile apresentado, os motivos que levam ao espectador a conciliar seu juízo estético ao consentimento universal.
Julgar o espetáculo apresentado pelo estilista, além de considerá-lo belo ou não, é conhecer o trabalho de Ronaldo Fraga e saber o lugar de destaque que ele ocupa no cenário da moda brasileira e até mesmo internacional. Avaliar o interesse e a criatividade da inspiração é saber que a obra Grande Sertão: Veredas é uma das mais importantes da literatura brasileira e seu autor, um dos maiores expoentes da literatura nacional.
Em resumo, o conceito de Beleza agrega a subjetividade da satisfação, do sentimento de prazer à objetividade do gosto e aprovação geral.

  • TERCEIRO PARADOXO KANTIANO SOBRE A BELEZA
O terceiro paradoxo pode ser analisado do ponto de vista de que o desfile de Ronaldo Fraga possa satisfazer um interesse físico, pois o prazer causado está relacionado à satisfação de poder fruir da capacidade criativa do estilista, para vestir uma peça de roupa que possua um conceito cultural significativo, além do trabalho artístico e o diferencial de qualidade que possui. É um prazer interessado, movido por desejos.
O ato de assistir ao desfile e dessa forma fazer parte desse espetáculo pode, também, estar relacionado a um prazer desinteressado, o prazer de poder contemplar uma manifestação artística e histórica.
Segundo Kant, o sentimento da Beleza não se relaciona a nenhum interesse, não está suscetível a desejos ou inclinações, é um prazer meramente contemplativo. Nesse momento, o terceiro paradoxo Kantiano a respeito da Beleza está exposto.

  • QUARTO PARADOXO KANTIANO SOBRE A BELEZA
O quarto paradoxo Kantiano refere-se ao conceito de fim e finalidade. O desfile inspirado na obra de Guimarães Rosa pode ter um fim, uma destinação útil, que seria apresentar a inspiração de um estilista através da criação de um espetáculo, onde as roupas "contam" uma história e é perceptível que o estilista tem uma ligação muito forte com conceitos e com a cultura brasileira. Segundo Kant, o fim é uma propriedade do objeto, no caso, do desfile em si, e não das sensações do espectador, portanto, não pode ser analisado como um julgamento estético, pois leva em conta interesses que estão além da subjetividade meramente contempaltiva.
Por outro lado, existe o conceito de finalidade, onde o interesse é extraído exclusivamente da sensação de prazer ou desprazer, que o espetáculo suscita no espectador, sendo uma experiência pessoal desinteressada.
De acordo com a Teoria Kantiana da Beleza existem as duas posições:
" O juízo estético não tem outro fundamento senão a forma da finalidade de um objeto" - Trazendo à tona, paradoxalmente, a importância do objeto, o desfile apresentado, e distanciando-se da ideia exclusiva de que a Beleza é uma mera contemplação desinteressada do espectador, posição que está presente nesta segunda afirmação de Kant - " A satisfação determinada pelo juízo de gosto é uma finalidade sem fim".
Esse é o quarto paradoxo Kantiano, onde a Beleza ora está na forma da finalidade do desfile, do espetáculo de moda, ora está estritamente relacionada ao gosto e ao prazer que o sujeito tem em apreciar e contemplar esse espetáculo.

TRÊS GRAUS DE FINALIDADE / GRATUIDADE PROPOSTOS POR KANT E A RELAÇÃO COM O DESFILE DE RONALDO FRAGA


  • OS OBJETOS SE RELACIONAM COM O SEU FIM E A SUA UTILIDADE

O desfile apresentado, segundo a teoria Kantiana da Beleza, pode ser considerado um ato contemplativo, sem estar necessariamente relacionado à sua utilidade. Por outro lado, o fato do espetáculo estar relacionado a um tema, uma inspiração, deturpa a capacidade do ato contemplativo puro, genuíno, pois o espectador está previamente "impregnado" pelos conceitos trabalhados no espetáculo. A aridez do sertão, a dureza da vida sertaneja, os animais da caatinga, a vegetação escassa, são conhecimentos prévios que o público carrega inconscientemente, mesmo que não haja uma compreensão ou vivência deste mundo retratado na obra Grande Sertão: Veredas. Dessa forma, a Beleza do desfile, o prazer ou desprazer despertados, estão no campo da chamada "Beleza Aderente", já que atrelam a sua observação aos conceitos que existem da ideia representada, da coleção executada e de todo o espetáculo criado para torná-la pública.


  • OS OBJETOS QUE REPRESENTAM COISAS (ARTE FIGURATIVA)
O desfile é exatamente uma forma de Arte Figurativa, pois mesmo com conceitos e interpretações, muitas vezes, particulares do estilista/criador, ou seja, que partem de uma leitura pessoal da inspiração, do tema abordado, existe um conceito prévio a respeito do que foi desenvolvido.
Ronaldo Fraga se baseou em pesquisas, aprodundamento e vivência da obra de Guimarães Rosa, para criar ou até mesmo recriar o universo sertanejo com todas as suas nuances.


  • OS OBJETOS QUE REPRESENTAM SIMPLES FORMAS (ARTE ABSTRATA)
O desfile de Ronaldo Fraga, apesar de estar "imerso" em todos os  detalhes e desdobramentos da obra , possui uma abstração, pois trata de temas ligados ao ato de sentir, como o amor, o medo, a coragem. Segundo a teoria Kantiana da Beleza, mesmo esses aspectos não são suficientes para torná-lo um ato contemplativo "puro", desinteressado.

Existem pensadores, como Nietzche, por exemplo, que discordam desse radicalismo quanto ao que é determinado arte "pura" ou "impura", pois a perda dessa "pureza", no caso do espetáculo analisado, pode ser compensada através da complexidade em representar os detalhes, e a soma de todos os aparatos artísticos, como cenário, trilha sonora, iluminação, escolha das formas formas e materias, que garantem um ato contempaltivo completo para o espectador, sendo possível causar sensações de prazer ou desprazer


CONCLUSÃO

Mesmo diante de paradoxos e divergêncais, é importante salientar a amplitude do pensamento Kantiano para o Campo da Estética. Talvez sem as elucidações trazidas à tona por Kant, seria impossível criar um espetáculo como um desfile de moda, que necessita da imaginação artística. Essa importância assinalada por Kant à imaginação facilita a criação e a fruição da Arte.
Analisando o desfile de Ronaldo Fraga, ou qualquer outro espetáculo de moda, chegamos aos componentes indispensáveis para a sua realização, imaginação, arte e criação.



Entrevista com Ronaldo Fraga







Referências Bibliográficas:
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: José Olimpyo, 2004.

LIMA, Luiz Costa. A “beleza livre” e a arte não-figurativa. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dlm/alemao/pandaemoniumgermanicum/site/images/pdf/ed2004/A_beleza_livre_e_a.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2010.

CÂMERA, Rodrigo. Ronaldo Fraga - Verão 2007 - SÃO PAULO FASHION WEEK. Disponível em: <http://www.rodrigocamara.com.br/index2.html#>. Acesso em: 03 nov. 2010.

VIANNA, Bia. Guimarães Rosa é homenageado em desfile poético: Ronaldo Fraga leva Grande Sertão: Veredas para a passarela em um verão bem brasileiro. Disponível em: <http://www.revistaparadoxo.com/materia.php?ido=3508&PHPSESSID=3ee32ed539d306c98c3a3cbea8a96844>. Acesso em: 03 nov. 2010.

SANTOS, José Osvaldo Dos. O real dentro do imaginário do Rosa. Disponível em: <http://www.apropucsp.org.br/apropuc/index.php/revista-cultura-critica/36-edicao-no07/298-o-real-dentro-do-imaginario-do-rosa>. Acesso em: 04 nov. 2010.

JORGE WAKABARA. SPFW já: moda + literatura com Ronaldo Fraga. Disponível em: <Jorge Wakabara>. Acesso em: 04 nov. 2010.

CAROL GREGNANIN. São Paulo Fashion Week Verão 2007: Ronaldo Fraga mostra sertão de Guimarães Rosa. Disponível em: <http://moda.terra.com.br/spfw2007verao/interna/0,,OI1071757-EI6819,00.html>. Acesso em: 04 nov. 2010.

FREITAS, Carla. Um diálogo criativo entre moda e literatura. Disponível em: <http://imagensdaleitura.blogspot.com/2010/03/um-dialogo-criativo-entre-moda-e.html>. Acesso em: 04 nov. 2010.



                                                                                                                                                                      




quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Resumo – Iniciação à Estética – Capítulo 8 – Teoria Hegeliana da Beleza – Ariano Suassuna

SUASSUNA, Ariano. Teoria Hegeliana da Beleza. In: SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. p. 87-93.





Hegel foi o maior dos pensadores idealistas do século XIX. Segundo a Teoria Hegeliana da Beleza, “a unidade da Ideia e da aparência individual é a essência da Beleza e da sua produção na Arte”.
O filósofo faz uma distinção entre a Beleza e a Verdade: “A Verdade é uma ideia enquanto considerada em si mesma, em seu princípio geral” e “... A Beleza se define como a manifestação sensível da idéia...”.
Hegel, como um racionalista faz oposição ao que foi proposto por Kant, não aceitando o fato de que a Beleza possa ser algo não-conceitual, já que ela advinda da Verdade e essa é adquirida através de um pensamento conceitual.
Trata, ainda, da distinção entre Ideia e Ideal: A Ideia, considerada enquanto em si mesma é a Verdade. É a realidade em sua essência. Já o Ideal é a Beleza, a Verdade exteriorizada no sensível e no concreto.
Outros conceitos abordados são da Liberdade e Necessidade: “... A liberdade é a modalidade suprema do Espírito. Ora, enquanto a liberdade permanece puramente subjetiva e não se exterioriza o sujeito de choca com o que não é livre, como que é puramente objetivo, isto é, com a necessidade natural...”
O homem só pode romper essa contradição através da comunhão com o Absoluto, com a Ideia.
A seguir apresenta as três etapas do Absoluto: A Arte, a Religião e a Filosofia.
A Arte: a espiritualização do sensível;
A Religião: A absorção da contemplação da Arte;
A Filosofia: É a síntese dessas duas etapas anteriores, fundamentais para o caminho do homem na busca do Absoluto. É através da filosofia que o homem tenta superar a contradição fundamental do seu destino, estar dividido entre a espiritualidade e os seus desejos e paixões.
A Beleza se dispõe a aliviar esse conflito inerente à condição humana.
Segundo Hegel a Tragédia é uma situação que depende da Vontade e não das fatalidades exteriores. Já a Comédia exerce o papel de satisfação, elevação do sujeito, que se sente seguro e superior à crueldade e desgraças da vida.




Resumo – Iniciação à Estética – Capítulo 6 – Teoria Kantiana da Beleza – Ariano Suassuna

SUASSUNA, Ariano. Teoria Kantiana da Beleza. In: SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. p. 69-78.

A Teoria Kantiana pretende atribuir a existência da Beleza ao sujeito e não ao objeto.
Segundo o filósofo seria impossível resolver as questões estéticas, pois existem diferenças entre juízos estéticos e de conhecimento, motivo pelo qual não existe a possibilidade de determinar uma solução, uma fórmula que defina Beleza ou Arte.
Os juízos estéticos não podem ser conceituados, transformados numa concordância geral, já que estão estritamente relacionados à reação pessoal do sujeito, do contemplador diante do objeto.
Kant apresenta: O Juízo de Conhecimento, que depende de uma validez geral, um consenso; O Juízo sobre o agradável, dependente das sensações pessoais e o Juízo Estético, no qual cabe um paradoxo, pois apesar de não possuir um conceito exige a validez universal, o consenso já citado no Juízo de conhecimento.
Na teoria de Kant a Beleza é chamada de “satisfação determinada pelo juízo de gosto” e é aquilo que “agrada universalmente sem conceito”.
O segundo ponto paradoxal da teoria consiste no fato de que a satisfação do sujeito, o que lhe parece agradável está relacionada a faculdades necessariamente comuns a todo homem.
O terceiro paradoxo consiste na diferença do interesse físico de satisfação, como saciar a fome, por exemplo, tratando-se de um “prazer interessado” e o “prazer da natureza”, causado pela simples alegria contemplativa. Para Kant o sentimento da Beleza não se propõe a satisfazer nenhuma inclinação ou necessidade é um “prazer desinteressado”, algo que independe da existência do objeto. O agradável, a beleza e o bem são satisfações, porém somente a proporcionada pelo gosto da Beleza é validamente desinteressada.
Para obter o entendimento do quarto paradoxo Kantiano, é necessário fazer a distinção entre fim e finalidade. Segundo ele o fim está relacionado ao objeto e a sua destinação útil e a finalidade está relacionada à sensação harmoniosa e agradável experimentada pelo sujeito. O fim é ligado a propriedades do objeto, e o juízo estético é subjetivo. A conclusão é a de que “o juízo estético não tem outro fundamento senão a forma da finalidade de um objeto”.
Kant apresentou a diferença entre a “Beleza livre”, que não depende de nenhum conceito do que seja o objeto e a “Beleza aderente”, que supõe a perfeição desse objeto baseado no conceito formado. A conclusão é a de que a “Beleza livre” é considerada a única esteticamente pura.
Apesar das divergências apresentadas na teoria Kantiana, o seu pensamento é consolidado como uma das maiores contribuições no campo da Estética.
 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Análise dos objetos de design segundo as visões platônicas e aristotélicas


A análise de objetos projetados por um designer, segundo as concepções platônicas e aristotélicas deve ser antecedida de uma exposição com algumas das principais divergências entre os dois filósofos. Dessa forma, essa análise poderá ser contextualizada através dessas divergências e observações.

Platão
Aristóteles
O ideal é inatingível
O ideal está no homem
A Beleza é uma lembrança do mundo das ideias
A beleza é uma propriedade do Objeto
A Arte descobre as formas do mundo das ideias
A arte cria novas formas





Os dois objetos apresentados são do pintor, escultor, gravador e designer José Mesquita.
Participou de mais de 150 exposições, individuais e coletivas, no Brasil e no exterior.
Criador e primeiro curador do Prêmio CDL de Artes Plásticas da Câmara de Dirigentes Lojista de Fortaleza e do Parque das Esculturas em Fortaleza.
Possui obras em coleções particulares e espaços públicos no Brasil e no exterior.
É diretor de criação da Creativemida, empresa cearense desenvolvedora de portais para a internet e computação gráfica multimídia.


Análise Platônica:


Segundo Platão o belo é o bem, a verdade e a perfeição existem em si mesmas, e residem no mundo das idéias.
Para o filósofo qualquer coisa corpórea, vinda da natureza ou fruto da criação humana é mera imitação dos modelos ideais que habitam o mundo das essências e por isso, é impossível que atinja a Beleza Absoluta. No entanto, isto não impede que a beleza de um objeto, como o copo e a bandeja não sejam assimilados pelo homem. Ela é percebida proporcionalmente a relação da beleza do ser material com a Beleza Absoluta, mas jamais será plena. Será sempre uma sombra do seu modelo ideal.
De acordo com a visão platônica a arte e o belo são coisas distintas, pois a beleza está no ideal, sendo a arte apenas uma forma de reconhecimento que busca esse ideal na transformação da matéria.
O copo e a bandeja, com locais determinados para a colocação das mãos e dos dedos, são imitações do que seria ideal. O objeto e as formas humanas se “fundem”, idealizando a formação de um modelo ideal, porém esse modelo jamais será dotado da beleza Absoluta.

Análise Aristotélica:



Aristóteles era um filósofo que defendia o Empirismo, segundo ele, as idéias são adquiridas  através da experiência, atribuindo grande importância para o mundo exterior e para os sentidos, sendo a única fonte do conhecimento e aprimoramento do intelecto. A beleza tinha que atender requisitos como: ordem, harmonia e proporção.
Diferentemente de Platão, Aristóteles defendia que a origem das idéias dá-se através da observação dos objetos.
Aristóteles propôs que tudo no mundo tinha um propósito. Esta é uma noção particularmente importante para entender a idéia de um projeto (design), que requer um projetista (designer). “Teleologia” é o termo usado para exprimir a idéia de uma razão final, um propósito, um objetivo, e que permeia os argumentos em favor de um “design”. Desta forma, o “design” seria a maneira através da qual um “designer” (projetista) manifesta seus propósitos, seus objetivos. Logo, qualquer argumento de criação traz teleologia na sua essência. Aristóteles é considerado o pai da teleologia.
O designer responsável pela criação do copo e da bandeja precisou experimentar a sensação de segurar os objetos, de saber os fins a que se destinavam. Partindo dessa experiência sensorial agregou ao projeto funcionalidades como os locais determinados para o posicionamento da mão e dos dedos que segurariam com maior praticidade o copo ou a bandeja.


Referências Bibliográficas:

BOTELHO, José Francisco. A lógica de Aristóteles. Disponível em: <http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/096/filosofia/logica-aristoteles-595331.shtml>. Acesso em: 12 nov. 2010.

PIRAUÁ, José. A Idade Dogmática. Disponível em: <http://www.slideshare.net/piraua/estetica-2009-1-aula02-idade-dogmatica>. Acesso em: 12 nov. 2010.

ALMEIDA, Roberto. Epicuro e o questionamento do "argumento do design". Disponível em: <http://scienceblogs.com.br/quimicaviva/2010/05/epicuro_e_o_questionamento_do.php>. Acesso em: 12 nov. 2010.

MESQUITA, José. Design: Objetos inusitados. Disponível em: <http://scienceblogs.com.br/quimicaviva/2010/05/epicuro_e_o_questionamento_do.php>. Acesso em: 12 nov. 2010.