quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Análise de croqui e as visões platônicas e aristotélicas


O croqui analisado foi elaborado para a disciplina de Projeto e Varejo, ministrada pela professora Rosana Naccarato, na unidade de ensino superior Senai/ Cetiqt (Barra). A proposta era a elaboração de uma mini coleção coordenada composta por seis croquis, com temática e público escolhidos à critério do aluno.
O tema aborado foi Art Nouveau e a coleção foi "Art Nouveau, uma nova consciência", propondo a mulher um retorno à natureza, ao conforto, ao estar bem e sentir-se bem. A ideia central era aliar arte e natureza, com roupas que remetiam às formas orgânicas e bordadas com motivos florais.



Art Nouveau:

Considerado um fenômeno tipicamente urbano, que nasce nas capitais e se difunde para o interior. Interessa a todas as categorias de costumes: O urbanismo de bairros inteiros, a construção civel em todas as suas tipologias, o equipamento urbano, doméstico, a arte figurativa e decorativa, o vestuário, o ornamneto pessoal e o espetáculo.
Possui influências culturais não európéias, do Japão, China e mundo islâmico.
O objetivo do Art Nouveau foi fundamentalmente compensar a "simetria" da produção em série, unindo a artificialidade dos materias, suavizadas pela formas orgânicas. É um estilo ornamental que consiste no acréscimo de um elemento hedonista a um objeto útil.
Delicadeza, feminilidade e forte influência da natureza estão entre suas principais carcterísticas.

Aspectos do Art Nouveau:

Marca Registrada: Formas orgânicas, assimetria;

Cores: Verde, amarelo, violeta;

Materiais: Ferros retorcidos, vitaris coloridos;

Cidades: Paris, Bruxelas e Viena;

Animais: Insetos voadores, como borboletas e libélulas;

Flor: Íris

Jóias: Tiffany & CO., Lalique;

Pintores: Gustav Klint, Toulouse- Lautrec, Alfons Mucha;

Musa: A dançarina Jane Avril;

Estilista: Paul Poiret.


(Ambiência Inspiração histórica- inserida no trabalho)


A coleção e desenvolvimento do croqui:

Trechos do Editorial da coleção "Art Nouveau, uma nova consciência":

"... Os modelos transitam com o entusiasmo desta "nova primavera", invadindo as ruas com adornos florais e borboletas..."
"... Pressão exagerada, ninguém que é moderno suporta mais, por isso esta coleção cria uma rota de fuga, propondo uma nova realidade, uma floresta encantada urbana..."


(Ambiência Coleção- inserida no trabalho)

O croqui reproduz um macacão com formas  que não evidenciam as curvas femininas, porém preservam a feminilidade, com decote tomara que caia. Possui recorte assimétrico, bolsos e um bordado floral, que inicia-se no tronco e se prolonga até um pouco abaixo da altura dos quadris, intencionalmente, alongando a silhueta.
As cores utilizadas, violeta do tecido e lilás do bordado são cores muito presentes nas obras influenciadas pelo Art Nouveau, assim como o desenho floral e orgânico do bordado. 
De acordo com o tema proposto, o desenho do modelo tenta romper com qualquer rigidez e simetria e se aproxima das linhas curvas e formas orgânicas inspiradas na natureza.
A roupa foi pensada para uma mulher que não está preocupada somente em vestir tendências,  mas que valoriza design e informação de moda e principalmete o conforto das formas mais amplas.


(Ambiência Público alvo- inserida no trabalho)

Croqui segundo Platão:

Segundo a visão platônica, o próprio tema, Art Nouveau, que serve de inspiração para o croqui, já é uma imitação de um ideal concebido no mundo das essências, sendo assim é impossível que a roupa idealizada atinja uma Beleza Absoluta e que atenda a qualquer requisito de perfeição ou originalidade.
Se a criação de moda é uma criação artística, ela é diferente do que Platão considera Belo, já que segundo ele, o Belo é o bem, a verdade e a perfeição e todos esses valores estão inseridos exclusivamente no mundo das ideias. A arte seria uma forma de imitar e reconhecer esse ideal, transformando a matéria em algo que se aproxime dele, mas jamais se iguale em absoluto.
O ser humano tem a capacidade de assimilar a beleza de uma roupa, de um desenho, de uma criação artística, porém ela é analisada proporcionalmente a relação da beleza de um objeto, fruto da criação humana, com a Beleza Absoluta, jamais alcançando sua plenitude.
O croqui é uma imitação, uma sombra, uma tentativa de chegar o mais próximo possível do modelo ideal, porém nunca atingirá esse objetivo.

Croqui segundo Aristóteles:

Em oposição a visão platônica, Aristóteles diz que o ideal está no homem e não no campo das ideias. A beleza é uma propriedade do objeto e a arte não se trata apenas de imitação, mas é responsável pela criação de novas formas.
O filósofo era defensor do empirismo, dizendo que as ideias surgiam a partir da observação, da experiência, atribuindo grande importância aos sentidos humanos.
Apesar de considerar o sujeito capaz de atribuir beleza a um objeto, fruto de sua criação, essa Beleza precisava atender a requisitos, como: Ordem, harmonia e proporção.
O croqui analisado foi criado a partir de um tema, que já tinha seus conceitos estabelecidos e determinados. Para que esse desenho fosse pertinente à temática do Art Nouveau, foi necessário pesquisar, conhecer e observar todas as características desse fenômeno artístico, atendendo à necessidade empírica para a formulação da ideia, segundo a teoria aristotélica.
Dessa forma é possível apreender nos detalhes da roupa aspectos pertinentes ao Art Nouveau, como: Assimetria, escolha das cores e bordado floral.
O croqui não atende aos requisitos de Beleza postulados por Aristóteles (ordem, harmonia e proporção), porém apesar dessa definição objetiva da Beleza, o filósofo aborda o tema  sob um outro ângulo. A questão não se encerra apenas no objeto, mas também no que a obsevação do sujeito pode desencadear em seu espírito, tornando o prazer estético uma reação decorrente da apreensão e fruição do objeto pelo sujeito .
 O croqui será belo ou não, dependendo do sentimento despertado no contemplador. Essa forma de abordar a Beleza, se aproxima bastante das características postuladas pela estética pós-modernista.

Referências Bibliográfiacas:

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia Das Letras, 1992. 709 p.

SEELING, Charlotte. Moda: O século dos estilistas. São Paulo: Könemann, 2000. 655 p.
BRAGA, João. Reflexões sobre moda. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2008.
CAETANO, Nana. Nouveau ou déco?: A moda e a decoração voltam a olhar para o início do século 20. Faça sua escolha. Vogue: Brasil, São Paulo, n. 364, p.187-188, dez. 2008. Mensal.
JONES, Sue Jenkyn. Fashion Design: Manual do estilista. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2005. 240 p.
SUASSUNA, ARIANO.Iniciação à Estética. 9 . ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
 








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